O Sentido Como Transformação

"O verdadeiro ato de sentir é talvez a faculdade mais esquecida que o ser humano tem. Como o “sentir” é inato, este sentimento é remetido para a linha dos autómatos que tão bem o homem sabe realizar, dando fruto a outros sentires nada favorecedores. O “sentir superficial” abarca toda uma panóplia de diferentes emoções.

Em situações constrangedoras, longe do agrado, facilmente é ativado o estado de raiva, o ódio, o desamor, a vingança, o desprezo, a amargura, entre tantas outras. Em situações bem mais favorecedoras e beneficiosas, vem a reverência, a alegria, o júbilo, o orgulho. No entanto, estes sentimentos não deixam de ser superficiais no seu conteúdo. São palpáveis, são visíveis e ainda idolatrados.

Concentremo-nos no ato de “sentir” no seu mais verdadeiro e maior significado, na sua profundidade. O “sentir” que os olhos da alma de qualquer ser humano vêem. É o âmago em toda a sua plenitude.

Sendo o ser humano a mais bela e perfeita construção de Deus, como já foi dito, toda a sua essência está timbrada com o seu cunho. Se assim é, e é, o homem tem a capacidade de transformar os sentimentos não sentidos em sentimentos prósperos, de compaixão, de compreensão, de gratidão, de benevolência, de entrega, de diligência, de partilha, de misericórdia. Todos, sem exceção, são portadores à nascença de todos estes benefícios mais rentáveis, no entanto, para si do que para o outro, por estranho que pareça.

Esta face do “sentir” não é material, não se manifesta simplesmente na bem-educada e conveniente força da palavra, não só se manifesta num simples “eu compreendo”, num simples “melhores dias virão”, “o amanhã será sorridente”, num simples e catedrático “obrigado”, por vezes não sentido. Estas não deixam de ser intervenções bonitas na sua conveniência, mas convencionais no seu valor, onde o único que tira proveito é aquele que as profere, num sentir de que cumpriu a sua parte o que por inerência o faz sentir-se bem consigo próprio. Puro ego.

O verdadeiro sentir manifesta-se na “ação” construtiva, aplicada, alimentada, desenvolvida. Uma ação que não exige um “obrigado”, uma ação abnegada, gratuita na sua forma, saída da mais pura das entranhas do coração, na ação “sentida”.

Seria benéfico para a humanidade, e na linha do que tem vindo a ser construído, que o homem alargasse os seus horizontes e começasse por ser sincero e honesto consigo mesmo, não subestimando nem a inteligência nem a condição do outro, como tem vindo assiduamente a acontecer. Porque o outro enxerga muito mais do que se pode imaginar. As entrelinhas não são invisíveis.

O sentir que aqui se aborda é, então, o “sentir com o coração”, não mais com a mente e tão pouco com o ego. E quando transformar este sentir em ação, não olhe para o lado esperando um elogio, uma recompensa, tenha ela a forma que tiver. Toda a boa intenção da ação desvanecer-se-á. Apenas sinta com os sentidos do coração, transforme, pratique a ação…pura e simplesmente gratuitamente. A vida encarregar-se-á de lhe trazer a compensação".

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