Existir versus Escolher

É próprio da natureza humana deixar-se assolar com as mais diversas formas de preocupação, em todos os níveis e quadrantes. Se bem que é por si absorvido como sendo natural à sua condição, onde se convence que as preocupações são já um lugar-comum no quotidiano, onde são vividas como já detentoras de lugar cativo, o certo é que a vida tornar-se-ia muito mais saudável e resolúvel com a abstenção deste sentimento.

É claro que o homem tem toda a capacidade de se abstrair de momentos e situações, diga-se, mais instáveis para o seu conforto, e que são próprias da vida. Assim o queira. Há escolhas que determinam as consequências, da mesma forma que há consequências que determinam as escolhas. O excesso de preocupação que, muitas vezes, é dada à vida, até às inerências mais vulgares da mesma, não permite pensar nem agir com clareza de visão e discernimento.

Convenhamos: tudo o que acontece no percurso de cada um deriva da forma e postura que se adota para com a vida. Partindo-se do pressuposto que o homem frequentemente se coloca com um pé na retaguarda, numa atitude defensiva ou, ao contrário, de ataque, tudo o que daí advém é da sua inteira responsabilidade.

Nem todos os momentos da vida decorrem à feição do desejado. Os contratempos estão, de facto, presentes, mas para quê nutrir o sentimento de preocupação se esta não tem o poder de alterar seja o que for? Qual é o ganho? Nenhum. E as perdas? Um sem fim.

Tudo tem conta, peso e medida dentro dos limites do que é razoável. E razoável é dirigir a vida num sentido em que não se deparem com turbulências. Tudo é uma conquista do ser humano, há que lutar por isso, fazendo a parte do trabalho que compete a cada um. Dir-se-á que é uma conquista solitária, porque cada elemento responde apenas por si mesmo. Logo, não queira o homem ver nos outros um exemplo a seguir porque o caminho de cada um é próprio e intransmissível. Não queira ser as pernas dos outros, os pensamentos dos outros, o agir pelos outros, assim como os outros não o podem fazer por si.

A forma como a vida se apresenta para cada um depende totalmente como cada um se coloca frente à vida. Mais uma vez está patente a escolha. Doravante, o estado de preocupação com que o homem pinta a tela da sua vida vai convergir e ditar a sua forma de existir, a sua saúde, a sua doença, as suas decisões. As cores da pintura quem as escolhe é o autor da mesma. Quanto mais viva, mais alegre, otimista a obra é construída, e que se pretende que seja uma obra de arte,  maior é o sucesso  da mesma. Apenas quem se mantiver numa sintonia de cores obscurecidas é que é atraído pelas obras que têm a mesma forma.

Na história da vida, a semelhança é a mesma. Quanto mais otimista, alegre, construtivo for, maiores são os provendos que daí advêm para atrair estados com a mesma conexão. Isto também se coloca ao sentimento de preocupação que nada resolve, ou seja, a este estado de sentimento que não vem acrescentar nada à vida humana.

Em tom de advertência e de lembrança: Quem pinta o mural da sua vida é você mesmo, por isso o tempo é de dar uma lufada de ar fresco, sorrir, guardar o passado no arquivo que lhe compete e viver o momento presente, construindo o caminho do futuro.

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O Poder do Amor

“(…) pela primeira vez em minha vida enxerguei a verdade tal como fora cantada por tantos poetas, proclamada como verdade derradeira por tantos pensadores. A verdade de que o amor é o derradeiro e mais alto objetivo a que o homem pode aspirar." Viktor Frankl 

Amiúde, o ser humano interroga-se sobre o porquê de muitas prevalências cíclicas que sucedem no planeta. As demandas do tempo, do clima, das intempéries ainda se mantêm num mistério ao olho e entendimento das criaturas humanas.

As demonstrações climatéricas são inalteráveis às mãos do homem, parecendo mais terem vontade própria, que surpreendem, que se insurgem ao ponto de o homem sentir-se tão pequenino e incapaz perante tamanha grandiosidade e voluptuosidade. Mudam-se os tempos, transformam-se as certezas.

Não queira o homem subestimar o poder com que a Mãe Natureza defende, protege e luta pela sua criação. Esta mesma criação não pode jamais padecer de ameaça. Deveria ser intocável e imune aos insurgimentos tidos contra si, mas não o é, isto porque a natureza também é formada por seres vivos, sendo estes mesmos seres vivos que sustentam a vida humana e que, ao não terem o tratamento adequado para a sua resistência, também se debilita, deixando, por isso, de poder exercer a sua função. Já imaginou a sua vida sem natureza verde? Sem natureza de água? Sem oxigénio? Sem vento? Sem chuva? Com certeza que não viveria.

Muitas palavras têm sido pronunciadas ao longo do tempo num arrebate contra as intempéries, num arrebate contra a própria vida de quem as dita, num arrebate de manifestação ofensiva do homem para o homem. Palavras extravasadas com entoações muito fortes e nada agradáveis, nem saudáveis para uma boa manutenção e alimento da natureza. Muita energia de desamor tem vindo a envolver o vocabulário utilizado pelo homem.

A aplicação verbal das palavras feita com desatenção ao seu conteúdo, tem um alvo por excelência: entre outros, o próprio planeta e toda a sua natureza. Este polui-se e adoece e uma das formas tidas de chamadas de atenção para os comportamentos é a sua manifestação de força como sendo uma necessidade de extravasar tudo o que é derramado sobre si, de mostrar todo o seu vigor de manifestação da forma mais atendível de compreensão que o ser humano tem, ou seja, aquilo que o ser humano designa como “fúria da natureza”. No entanto, esta manifestação de força não é senão um ato de Amor em Ação. O Amor que parte daquela que sustenta a vida humana para com o ser humano: O Amor da Mãe Natureza.

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O Poder da Palavra

É próprio do ser humano não contemplar verdadeiramente o sentido das suas palavras. Estas palavras têm várias formas de transmissão: a proferida verbalmente, a palavra escrita, a sentida, a pensada, a intencionada. Cada uma das mesmas, individualmente, interage com o Universo que as acolhe, pelo que a forma como são utilizadas e a intenção nelas depositada, atingirá o seu alvo e o seu propósito, de acordo com a evocação. 

Duplica-se, assim, o cuidado da aplicação da palavra, dado o poder que ela tem. Todo um mundo, com uma realidade bem definida nos dias de hoje, está ao alcance de todo o ser humano. Neste mesmo mundo coexistem seres humanos a quem o “poder da palavra” bem propositada e bem-intencionada ainda não acedeu, para que possam beneficiar do seu sentido, contribuindo também para um sentido da sua vida.

Para que o campo de ação superior possa interagir na ajuda às necessidades dos mais carecidos de abertura de coração, de mente e de espírito, é preciso que os operários de labuta operem na preparação de caminhos que possibilite uma intervenção maior, de consolidação do ensinamento, da orientação e do apaziguamento das turbulências terrenas. Deste modo, o modo de preparação desses caminhos é através da ação do poder da palavra proferida, com o propósito elevado e bem entendido.

Muitos são os que ainda se fecham em si, não abrindo brechas, e por isso não ouvem, não vêm, não sentem a ajuda que se coloca em todo o momento mesmo a seu lado. Para estes, o trabalho neles a ser efetuado é de uma cuidadosa insistência, sem que nunca o homem desista de ajudar um outro semelhante. Pacientemente e com o uso da subtileza há que ir torneando, tipo: “água mole em pedra dura…”.

Urge que aqueles que já são detentores de um posicionamento privilegiado na sua condição humana, estenda a mão e o conhecimento através do uso do “poder da palavra”, aplicada de forma muito atenta ao sentido, muito cuidada na entoação, para que sejam atingidos os objetivos que se tem pelo melhor.

Estamos numa era de mudança e de transformação e a muitos seres humanos tem de ser levado o aconchego através de uma operação conjunta que visa adentrar em todo o seu “ser” enquanto ser pensante e dono da sua vontade, e trazer-lhes o ensinamento da posição que necessita adotar na sua existência, com vista à sua evolução, à sua paz, à sua liberdade. Através da fusão destes estados evolutivos, o homem cresce numa abnegada leveza do ser, que o conduzirá ao êxtase do seu sentido existencial.

O poder da comunicação através das mais diversas formas do uso sábio da palavra insere-se numa urgência que há muito se faz sentida. Convida-se, por isso, o ser humano a abrir a mente e o coração para que estas mesmas palavras ecoem nas suas células e materialize a ajuda de que tanto tem necessitado. No entanto, defere-se uma advertência para que o uso da palavra tenha uma tonalidade de transparência e fidelidade ao bem que se impõe seja o maior, para que o homem não enferma de confusão, no seu entendimento e compreensão, e assim, evitar duplos sentidos, e para que o entendimento não seja distorcido, mas sim aplicado com clareza e bem sintonizado para que o verdadeiro propósito da palavra seja bem-sucedido.

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Uma Meta aonde Chegar

“A vida exige a todo o individuo uma contribuição e depende do individuo descobrir em que consiste." Viktor Frankl

Partindo-se do pressuposto que as atitudes alheias interferem com o equilíbrio dos mais frágeis, um cuidado acrescido terá de ser levado sempre em consideração. A constituição de todos os seres vivos tem uma vertente igualitária entre si. Há os mais resistentes aos embates e há os mais frágeis, a quem os embates os coloca num estado de sensibilidade por vezes difícil de suportar.

O ser humano é muito próspero a causar desilusões, a magoar, a menorizar entre si. Nesta circunstância há os que são mais atingidos, por vezes de forma propositada, e em que a capacidade de superação é tida como algo que requer um esforço muito grande por parte do visado. Causa dano à saúde e ao equilíbrio, causa dano à autossegurança e à autoconfiança. Muito dificilmente consegue recuperar, sem ajuda adequada, de atos, de atitudes tidas contra si e que de uma forma ou de outra feriu seu coração. Nestes, se não forem suficientemente acreditados na sua fé, as desilusões sofridas dão lugar à amargura, à revolta, ao sofrimento.

Todo o ser humano tem o direito próprio e adquirido de ser tratado com dignidade, respeito e integridade que a Lei Universal lhe confere. Nesta vertente, o cuidado a estar em primeira linha é: ter em conta as atitudes que se tem perante os demais, as palavras, as intenções, as ações. Não há que olvidar que todos “São Um”, e que o “outro” do dia de hoje é “você” no dia de amanhã.

Um ponto a ter necessidade de polição prende-se com a intransigência sem sentido. Aonde ela tem lugar? O que comporta? Qual é o ganho? Estas são questões a merecerem reflexão sobre os comportamentos adotados, para que se possa verificar que a atitude de intransigência não tem vida própria, sendo mais uma construção do homem, fruto do orgulho que não quer ser posto em questão. Neste sentido, o homem molda-se de acordo com as circunstâncias que ele próprio cria, pelo que urge tornear a sua índole de acordo com o que a integridade humana necessita.

Tudo está nas mãos de cada um. Não há que uns estarem colocados numa posição de vítimas e outros de agressores. Não é salutar para nenhum dos dois, não ajuda na evolução enquanto seres humanos que são. Há sim, que conquistar um equilíbrio que não prejudique uns e favorece outros. Há que ter consciência que as atitudes menos honrosas podem ser uma afronta à saúde e em tudo o que esta envolve, seja psíquica, mental, emocional e física. Mais uma vez, a responsabilidade tem lugar ativo.

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Fator Realidade

“Não há sentido apenas no gozo da vida, que permite à pessoa realizar valores na experiência do que é belo, da experiência da arte ou da natureza. Também há sentido naquela vida que dificilmente oferece uma chance de realizar criativamente e em termos de experiência, mas que lhe reserva apenas uma possibilidade de configurar o sentido da existência, que consiste precisamente na atitude com que a pessoa se coloca face à restrição forçada de fora sobre ser ser.” Viktor Frankl

O momento é de descanso, de arrumar as resistências com vista à mudança que, para bem da humanidade, há que empreender. Não se estranhe saber que a resistência também provoca cansaço, não muscular, não físico, mas sim cansaço psíquico e existencial.

Muita tem sido a informação de que os tempos são de mudança: esta mudança a que se refere, é a mudança de conceitos, de paradigmas, crenças, mentalidades. A oferta mundana já não seduz tanto o homem que a ela está exposto. No entanto, muitos há os que ainda vagueiam por estradas conturbadas onde os desejos materiais ainda imperam. Estes ainda mantêm a resistência à mudança. Em contrapartida, para os que já aprenderam que as mudanças de atitude na vida são o que os encaminha para a realização vivencial, onde, todos unidos nesse preceito de mudança contribuem para que a existência se torne mais transparente, mais sadia, mais próspera. Para estes, o tempo é de desfrute, não deixando porém de permanecerem no intento de mudança.

Para aqueles que persistem em resistir, esses são convidados a alargarem o nó que ataram em torno de si, são convidados a baixarem a resistência de si e sobre si, e a experimentarem momentos de relaxamento. Por isso mesmo, o momento é de descanso. Tudo tem o seu tempo de vida e há que deixar esse tempo correr livremente o seu percurso natural. O estado de inflexibilidade, de teimosia, de arrogância já não faz mais sentido. O momento presente requer sim, uma grande responsabilidade no que concerne ao ser humano e por parte deste.

Muito já foi escrito como fase de preparação e transmissão do conhecimento para a transação que está em curso. Urge levantar, lamber feridas, e seguir  caminhando com perseverança e determinação em direção ao trabalho que compete a cada um que pretende uma vida estabilizada em todos os sentidos físicos e etéreos.

O queixume já não tem mais lugar. Este já ninguém o ouve e não resolve coisa alguma, pelo contrário, provoca apatia e inércia e, diga-se até, muito comodismo de quem pretende arranjar planos de desculpa para justificar a sua inação. Para que seja conseguido alcançar toda uma plenitude de uma existência, enquanto “ser em essência” com repercussão no campo da matéria, há que colocar um freio à “brincadeira” e, responsavelmente, empreender uma vida com seriedade de sentidos, de intenções, de ações.

Esta competência não é objetivada mais para uns que para outros, mas sim a “todos” em partes iguais, seja qual for o estágio em que se encontre. Nada está restrito a ninguém, quando o campo intencional de ação é baseado numa correspondência de Amor Fraterno, de Amor Universal, de Amor por quem lhe atribuiu a existência. O momento é de partilha. Abram-se as vontades. Há que compensar o Universo que tanto tem vindo a fazer pela humanidade.

Compete acreditar que, quem sai a ganhar é você. Tudo o que construir em torno do Universo este terá a generosidade de lhe retribuir.

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Ser ou Não Ser – Uma Escolha de Vida

“Quanto mais a pessoa esquecer de si mesma - dedicando-se a servir uma causa ou a amar outra pessoa - mais humana será e mais se realizará. O que se chama de autorrealização não é de modo algum um objeto atingível, pela simples razão de que quanto mais a pessoa se esforçar, tanto mais deixará de atingi-lo. Em outras palavras, a autorrealização só é possível como efeito colateral da autotranscencência”. Viktor Frankl

A intencionalidade com que muitos atos são levados a fim é outra das muitas fontes de desorganização psíquica com consequências físicas tidas na sua origem, ou seja, por quem prescreveu e colocou em ação a atitude que visa atingir um outro alguém. As intenções, tenham a natureza que tiverem, envolvem sempre outro ou outros seres racionais semelhantes, para além do seu protagonista.

Todos os seres humanos (entre outros seres vivos) coabitam a mesma esfera terrestre, pisam o mesmo chão, daí que praticamente nenhum está imune aos atos alheios, seja pelo bem ou pelo menos bem. Isto porque, sendo o ser humano um ser curioso por excelência, este procura sempre que a oportunidade o permite, espreitar a seara alheia. Como consequência pode ter um retorno não esperado nem desejado, mas que pode ser evitado. Caso a estrutura mental, emocional e psicológica do homem não tenha a firmeza necessária e tida por conveniente para enfrentar agruras, umas provocadas e outras procuradas, o mais certo é que a amargura se instaure no seu coração, e não sendo esta resolvida da forma mais proveitosa para uma vida serena, facilmente germina, podendo dar lugar a desejos de atos de “vingança”.

A partir deste momento nasce a Intenção. A intenção de fazer valer a sua verdade e, não raro, podem insurgir atos de violência. Sabido que esta é uma postura de opção que não traz ganho a ninguém. É evitável, é revogável, é reversível. Sugere-se aqui que o papel de mal-intencionado não só se aplica ao curioso, como também àquele que foi objeto de curiosidade. O prato da balança é o mesmo.

Reversão: A intencionalidade da ação também pode e deve ser dirigida principalmente para atos de cujos valores assentam na caridade, na dádiva, na entrega, na generosidade, entre tantos e tantos outros. É nestes que o foco deve estar centrado.

Sobremaneira, é da competência de cada um optar por uma vida onde a coerência do ser, do ter, do agir, do pensar, do sentir, seja o ponto fulcral que conduz a sua existência. É grande a obra que o homem pode edificar em torno de si mesmo, por si mesmo e em proveito próprio, quando a ação dirigida para aqueles que são seus companheiros na jornada terrestre, se baseia no amor fraternal. Todos têm o dever de contribuir para uma vivência mais serena e salutar de todos. Tudo gira em torno de cada um e cada um em torno de todos. As águas por onde todo o ser humano navega são as mesmas de uns e de outros.

Um exercício de índole privado pode ser aplicado a cada um, em particular: ação gera ação, comportamento gera comportamento, bondade gera bondade… Então, se cada um fizer a sua parte no campo da intencionalidade coerente e coesa, o mundo torna-se mais leve, por sua vez, e nesta sequência, como os corações estão sintonizados num mesmo propósito, dito, a harmonia e paz, por conexão a vida torna-se mais sustentada de ser vivida.

Um grande areal é constituído por biliões de grãos de areia, de pequeníssimas partículas que, unidas, formam um horizonte a perder de vista. Cada ser humano representa essas mesmas partículas que, também elas unidas entre si, formam a grandiosidade que é a humanidade em todo o esplendor de beleza. Tal como o areal dá o seu contributo para o equilíbrio e a harmonia da natureza, também o ser humano tem o dever, uma vez que existe, de fazer a sua parte do trabalho para o equilíbrio e harmonia daquela que é a base de sua existência: a humanidade. TODOS SÃO UM.

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A Noética do Sentido do Sofrimento

“Certa vez um clínico geral de mais idade veio consultar-me por causa de uma depressão muito profunda. Ele não conseguia superar a perda de sua mulher (…). (…) confrontei-o com a pergunta: “Que teria acontecido se o senhor tivesse falecido primeiro e sua esposa tivesse que lhe sobreviver? “Ah” disse ele “Isso teria sido terrível para ela, ela teria sofrido muito!” Ao que retroquei: “Veja bem, ela foi poupada desse sofrimento e foi o senhor que a poupou dele, mas agora o senhor precisa pagar por isso, sobrevivendo a ela e chorando a sua morte”. O sofrimento de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que encontra um sentido, como o sentido de sacrifício”. Viktor Frankl

Muito é questionado sobre o porquê do sofrimento, sobre qual o sentido na vida que ele tem. O entendimento humano ainda não alcança nem compreende o quanto, muitas e muitas vezes, o sofrimento é precisamente quem traz o sentido à existência. 

Uma vida pautada pela imobilidade das facilidades, da abundância material, do divertimento, diga-se, irresponsável, não traz preenchimento, pelo contrário, a maioria das vezes converge a seu tempo num vazio existencial, na sensação de haver tido tudo e, ao mesmo tempo, não ter conquistado nada. Anos passados, o percurso da vida sai sempre adiante, não espera, não pára. E o que ficou? Uma vida finita e, ao mesmo tempo, inacabada de ser desfrutada e vivenciada em grandeza.

Ao contrário do que qualquer teoria ou pensamento possa divulgar, o “sofrimento em si”, por si só já é detentor de um significado. Toda a forma de sofrimento tem um sentido que, no momento certo, e a partir do instante em que o mesmo é experimentado conscientemente, será revelado. Seja de que forma for. Este sentimento tem o condão de colocar à prova aqueles que por esse estágio passam. 

Se bem que muitos estados de doença derivam de estados sentimentais menos prazerosos, como já se referenciou em capítulos anteriores, e sendo que esses estados também podem culminar em sofrimento, certamente que o ser humano coloca a questão: “Mas então, como cultivar e alimentar a nobreza de sentimentos, de pensamentos, de ações para assim evitar a doença, se esta mesma doença traz consigo o sofrimento  se o próprio sofrimento em si dá um sentido à vida?” A resposta reside na forma como o sofrimento é vivido. 

Este sentido tem a referência de dar a oportunidade ao ser humano de se tornar (ou não, dependendo da aceitação) um “ser” melhor precisamente através do cultivo e do alimento desses mesmos sentimentos e emoções nobres, que lhe trarão ou evitarão situações de doença, ou que lhe trará ou evitará a sua saúde. Porquê? Ao ser compreendida a razão do sofrimento o mesmo automaticamente passa a ser aceite; ao ser aceite sobressai a resiliência; ao sobressair a resiliência, o conceito de sofrimento passa a ter um outro paradigma, e na soma deste ”todo” o sofrimento, embora existindo, deixa de ser vivenciado como tal.

Neste ponto e com a certeza de que esse sentimento está querendo dizer algo, a busca sobre o “quê?” passa também ela a ter um sentido, ou seja, o ser humano tem duas opções relativamente à experimentação do sofrimento: ou não aceita, recusa-se a compreender, e por isso o sofrimento não termina nunca, porque o sofrimento pode gerar sofrimento, conforme se viva, e a forma como tal é recebido determina o estado de saúde mental, emocional, físico, espiritual; a segunda opção prende-se na aceitação e compreensão, como sendo uma experiencia de significado maior. Nesta segunda opção, não há risco de desequilíbrios humanos, porque, nesta fase, reside um ser humano em grande, em cujo estado de vida nada é vivido de forma autómata, mas sim em plena consciência de si, onde os valores mais elevados pulsam, acalentando a dor.

A vida permite a todos quanto a vivem, vislumbrar para além do horizonte das muitas oportunidades que uma vida com sentido presenteia o ser humano.

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A Essência da Existência

“Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez, e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora”. (…) nada estimula tanto o senso da responsabilidade de uma pessoa como essa máxima, a qual a convida a imaginar primeiro que o presente é passado e, em segundo lugar, que o passado ainda pode ser alterado e corrigido. Semelhante preceito confronta-a com a finitude da vida e com o caráter irrevogável daquilo que ela faz de sua vida e de si mesma”. Viktor Frankl

Na realidade construída nos dias presentes, o estado de insatisfação tem vindo a ser prato diário, onde a vivência é complicada, ao ponto de ser transformada em complexos estados de mau estar, sem contudo serem conseguidos identificar.

Há uma “serventia” principal a ter em linha de conta em ordem de prioridade: em primeiro lugar o ser humano deverá servir-se a si próprio, conhecer-se, engrossar o conhecimento dos saberes primordiais à existência; após e então poderá estar apto a servir aos demais seja em contexto familiar, laboral, institucional.

No entanto, uma diferença jaz entre estes dois “estados de serviço”. Porquanto o primeiro aborda servir-se a si mesmo enquanto essência, enquanto mundo interno, enquanto autoconsciência de si, enquanto transcendência do ser, amando-se. O segundo aplica-se a um serviço mais ao nível mundano, mais ao nível da sobrevivência, mais ao nível hierárquico. Sobremaneira, o primeiro sobrevive sem o segundo, enquanto o segundo não sobrevive sem o primeiro. Para um bom desempenho da segunda condição de “serviço”, a primeira, necessariamente, terá de sobressair, e nunca o oposto. Para o efeito, uma boa higiene emocional e espiritual elevará num maior equilíbrio mental e físico, que consequentemente trará resultados que, por conexão, manifestar-se-ão no bom serviço à comunidade (individual, organizacional, institucional, familiar).

Uns momentos do mais puro silêncio vividos um pouco em cada dia, onde o ruído exterior é isolado, onde a mente também ela é silenciada, permitindo-se estar uns momentos apenas e entregue a si mesmo, são o ponto crucial para que, no meio desse silêncio, o ser humano possa ter uma conversa com o seu mundo mais interno, aquele mundo que realmente “é” o mundo do homem, local onde inconscientemente se encontra. Permitir-se simplesmente escutar a voz da essência, esta conduzirá àquele quem realmente “você é”.

Neste ponto, um universo de oportunidades se abre ao encontro de todos os valores da integridade e dignidade humana, onde tudo se torna possível. E se não o for, nunca há perda mas sempre ganho, isto porque entretanto aprendeu a enfrentar e ultrapassar obstáculos fruto das circunstâncias de vida, por forma a não permanecer retido na amargura e no sofrimento. Por consequência, é-lhe conferido um estado de liberdade, de segurança, confiança e de determinação num campo de ação.

Não se alimente dúvidas de que tudo o que o homem tem ou não tem é por si conquistado e mantido. Apenas é uma conquista sua pelo que não há do que se queixar. Não basta proferir “eu não pedi isto”, porque o certo é que pediu, atraiu. Resta então reverter a situação quando esta não é do seu deleite mais desejado. Como? Já muito foi escrito. Começando por si mesmo, pelo seu mundo interior, educando sentimentos, emoções, desejos, julgamentos, e apelando à confiança, à gratidão, à compreensão, à alegria, ao sorriso e aos pensamento e sentimentos dos mais elevados.

Também, como já foi referido, tudo na existência humana tem o efeito boomerang que, ao ser lançado e não encontrando o alvo, retorna ao seu dono. Por isso tudo, o que acontece ao homem não deixa de ser por sua inteira responsabilidade: a responsabilidade de si, da forma como vivencia as etapas que a vida se lhe apresenta pela frente. O ser humano tem sempre a liberdade de expressão, de opção e de ação, pelo que não pode nunca projetar para os demais as responsabilidades que são apenas suas.

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A Logo-Responsabilidade em Ação

 “(…) a pessoa não deveria perguntar qual o sentido da sua vida, mas antes deve reconhecer que é ela que está sendo indagada. Em suma, cada pessoa é questionada pela vida; e ela somente pode responder à vida respondendo por sua própria vida; à vida ela somente pode responder sendo responsável” Viktor Frankl

O tempo não é sinónimo de coisa alguma, nem tão pouco desculpa para entraves quando a intenção maior está patente na ação levada a cabo.

É da responsabilidade de cada um organizar a sua função, não esperando delegar essa mesma responsabilidade no outro. Da mesma forma que é da responsabilidade de cada um todos os empreendimentos executados ao longo da sua existência. O apelo à compreensão e responsabilidade é por isso uma constante para que a mensagem que a vida tem a oferecer não fique aquém do propósito existencial.

Neste âmbito, cabe ser importante, mais uma vez, frisar o sentido que a alegria da vida tem para com o sentido da missão a empreender. A alegria suaviza os corações, liberta as mentes, faz enxergar mais além daquilo que é meramente palpável ao sentido físico. O cultivo desta virtude que ilumina é um bem maior para todo o ser humano. Abre portas ao mundo, abre as portas do coração, inunda a alma.

Neste ponto, não há lugar a referências das mais pequenas, porque essas são apenas pormenores de uma vida existencial que se pretende seja grandiosa no seu conteúdo, na sua ação. Essas pequenas coisas, contudo inerentes ao ser humano, são aquelas que podem ser guardadas naquelas caixinhas já faladas, e fechadas a sete chaves, para que aí permaneçam esquecidas no tempo e da memória.

O cultivo do sentido da responsabilidade associado ao sentido da alegria, resultam em dois elementos benfazejos a um propósito de vida em perfeição.


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A Mais Completa Manifestação do Sentido

“Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós” Viktor Frankl

A harmonia deve ser vivida e sentida pelo ser humano como uma experiência a culminar em algo mais grandioso. É um ponto de partida que eleva os corações ao nível de um estágio que se prolongará num percurso satisfatório.

Não evitar momentos prazerosos de um saudável convívio que alimenta e faz crescer a amizade da mais leal desejada. Este é o sentido da harmonia e da amizade. Outro não poderá ser dado, e a lealdade é o resultado de experiências partilhadas onde o que as liga é a construção alicerçada de alguém que já encontrou o seu percurso. Lealdade de sentimentos, lealdade de propósito…este é o ponto basilar.

Esta é uma parte da existência, como em tantas outras, que depende apenas de cada um. Tudo se assenta num esforço, embora haja muitos outros valores para além da harmonia e da amizade, resultando a lealdade, que fazem parte do mesmo espólio de uma vida repleta de alegrias.

As alegrias também elas são sentidas um pouco como produto dos convívios exteriores e uma maior parte já reside no interior humano. Apenas aguardam ser buscadas e exteriorizadas para que possam explanar numa perfeita comunhão existencial. Muito ainda há a desenvolver no âmbito deste tema: harmonia, amizade, alegria.

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Sabedoria Partilhada do “Ser”

“Aquilo que realizamos na plenitude da nossa vida passada, na abundância de suas experiências, essa riqueza interior nada, nem ninguém nos pode tirar. Mas não só o que vivenciamos; também aquilo que fizemos, aquilo que de grandioso pensamos, e o que padecemos, tudo isso salvamos para a realidade. Essas experiências podem pertencer ao passado; justamente no passado ficam asseguradas para toda a eternidade! Pois o passado também é uma dimensão do ser, quem sabe, a mais segura.” Viktor Frankl

Muitos são os que guardam os conhecimentos obtidos como se não fossem objeto de partilha, de transmissão. Quando alguém se prontifica a abrir seu coração numa dádiva do saber, adquirido por mérito próprio, quer através da procura como das experiências acumuladas, e se entrega nessa partilha, uma luz no planeta se ilumina. No entanto, este foco de luz não é senão a alma do recetor que se estende num gesto de gratidão. E sendo a partilha e a gratidão espólio do mais valioso que a humanidade poder ter, esta força explana ao mundo numa total sintonia ligada pelos corações, contagiando e envolvendo o planeta na mais perfeita harmonia.

Importa que o ser humano esteja sensibilizado para a utilidade de não trancar a sete chaves as aprendizagens de que vai usufruindo da vida, em detrimento de outros que não se colocam numa postura recetiva para a mesma. E muitos não o fazem precisamente pela falta de conhecimento. Estes são seres demasiadamente ligados à matéria, às preocupações, ao corre-corre sem fim, àquilo que os olhos vêm, onde “olhos que não vêm coração não sente”. Pura ilusão. Neste feito, não dando ensejo a outros aprofundamentos que, pela certa, lhes traria uma vida mais prazerosa de ser vivida.

Detém-se a necessidade de perseverar junto destes homens e mulheres, que ainda habitam num plano onde a luz não é a mais luminosa, não abunda, e por isso estão impedidos de ver, escutar, saber. Para estes, também há a necessidade de lhes ser facultado o direito à compreensão e gentileza de, num gesto abnegado, serem tocados nos seus corações.

Muitos estados de desequilíbrio psíquico, emocional e também físico, como já dito em anteriores capítulos, provêm precisamente do estado de “ignorância existencial”, em que muitos seres humanos deambulam. Para estes, apela-se à caridade dos outros que se encontram num estágio de conhecimento maior, caridade manifestada num abrir, lenta e cuidadosamente o livro onde consta o ensinamento que fará toda a diferença.

Aqui, a perseverança representa uma forma de ativa incursão, isto porque neste ponto, nem todos os trilhos para se chegar ao âmago de quem está carenciado, é o mais fácil de percorrer. Mas aqui também habita, não só a perseverança, mas também a caridade, que gentilmente é estendida ao semelhante. A compreensão, porque em tudo na vida há os que estão posicionados para ensinar e os que o estão para aprender. E nem sempre a colocação para o aprendizado é o mais disciplinado, denotando-se por vezes alguma rebeldia, a exemplo de todos os alunos que andam na sua escola. Só que esta que se propõe é a escola da vida, a aprendizagem da vida, o conhecimento da vida, torneados com os mais nobres sentimentos, todos eles à disposição e ao alcance de todo o ser humano. Quando se diz “da vida” refere-se ao “todo” que o homem “é”.

Note-se, porquanto que aquele que está apto para ensinar, também ele tem ainda e sempre muito a aprender. E a aprender com aquele que, inclusive, procura ensinar. Nesta vertente e em todas as outras não se coloca a sobrevalorização de saberes. Todos estão na mesma linha. Enquanto uns ensinam outros aprendem, e assim nasce a partilha não de bens mas de conhecimento e a permissão para tal, onde se pretende que se faça valer a partilha, a perseverança, a compreensão, a caridade e a gratidão.

Tudo se transforma, tudo nasce. Do contributo que se dá ao outro, o proveito é sempre do próprio.

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